Lançado pela primeira vez em 2009, o livro “O sábio ao contrário” de Ricardo de Azevedo traz uma narrativa lúdica e cômica que instiga, no interior, uma reflexão necessária à sociedade.
A obra utiliza uma linguagem simples e conta com ilustrações para enriquecer a narrativa, que por sua vez conta a história de um velho estudioso de uma ciência pouco conhecida: a ciência dos puns.
A pesquisa do sábio, perito na chamada “peidologia”, tinha o seguinte fundamento: todo ser vivo solta puns e a partir deles pode-se descobrir muito sobre quem os emite, quase como o código genético denominado DNA.
Com um objeto de estudo tão incomum, o protagonista era constantemente ridicularizado pelos moradores da vila em que vivia. Mesmo sem apoio, ele não desistia de seus estudos e de seu bom-humor, e sempre dizia: "Minha ciência é séria, a partir do pum de uma pessoa é possível entender se é uma pessoa feliz ou triste, rica ou pobre, criança ou adulto [...]", pois acreditava que sua ciência e seus estudos eram capazes de salvar a humanidade.
Certo dia, a filha do rei adoeceu. Médicos prestigiados foram chamados, mas nenhum foi capaz de identificar o que a menina tinha. O rei, desacreditado e aflito, resolveu dar atenção a uma criança, que deu a ideia de chamar o velho sábio da vila. Ao ser convocado, o velho sábio apareceu no quarto da princesa com um grande sorriso no rosto, coletou as flatulências da princesa e descobriu o problema: um nó na garganta que havia se formado, ao reprimir sentimentos ruins, que vieram de um dia em que encontrou uma criança sem-teto, revirando lixo para sobreviver. A filha do rei acabou falecendo, mas o sábio derramou seus medicamentos em seus lábios e ela voltou à vida.
Para comemorar a saúde da princesa, o rei preparou uma enorme festa e ordenou ao sábio que pedisse o que quisesse: fama, títulos, riquezas... mas ele só queria se casar com a princesa. O rei, incrédulo com a diferença de idade, negou o pedido, mas a princesa aceitou como forma de agradecimento.
Durante um ano, o sábio se dedicou a passar todo o seu conhecimento e amor pela peidologia para a princesa, que acabou se apaixonando por ele verdadeiramente. Ao ouvir a declaração, o velho deu uma cambalhota para trás e se transformou num jovem. É revelado à princesa que, por ter cheirado os gases de um bruxo traiçoeiro, havia sido enfeitiçado, e que graças a seus estudos e ao amor, havia ficado livre.
As ilustrações da obra nos remetem as xilogravuras da histórias de cordel, assim como o tema bem humorado e os episódios divertidos e comentários dos personagens. Afinal, dentre as poucas coisas que podem igualar um pobre e um rico, um brasileiro e um alemão, um bebê e um idoso são, como apresentado no livro: puns, que significam muito mais do que reações naturais do corpo. Significam o constante lembrete de que todos somos humanos: cheios de qualidades e defeitos. Ricardo de Azevedo soube encontrar todo o bom humor e profundidade presente em cada indivíduo em gases expelidos.
A única preocupação que a narrativa pode trazer é a escolha da característica mais marcante do personagem principal: sua idade. Quando a princesa aceita se casar com o sábio, sua aparência de ser muito idoso havia sido reforçada durante todo o livro, mesmo que depois a reviravolta final nos explique não ser bem assim. Seria interessante da parte do autor procurar outra alternativa para definir esse personagem tão peculiar, pois é muito persistente nos perguntarmos: será que uma criança não pode normalizar tamanha diferença de idade num relacionamento romântico? Que impactos isso teria na sua vida adulta?
Alunas: Ana Julia de Morais, Júlia Nunes e Ana Júlia Rissoni.
Preciso ler!!! Eu ri muito logo no começo da resenha, achei muito interessante a ciência do pum hahaha, mas confesso que essa parte da idade me desmotivou um pouco mesmo sabendo que no final ele vira um príncipe. Mas vou pensar, é um tema interessante se pensarmos no plot principal da história e não nessa problemática que talvez uma criança ache "normal" uma princesa jovem demais se casar com um adulto bem mais velho.
ReplyDeleteAluna: Isabela Moreno
ReplyDeleteAchei um tema genial, com certeza as crianças se divertiriam muito lendo. Apenas tive a reviravolta como aleatória e "viajada", além de, como as resenhistas, fiquei preocupada em como um senhor se casando com uma jovem seria interpretado por uma criança inocente.
Aluna: Graziely Duarte
ReplyDeleteEu achei isso de "código genético dos puns" bem inusitado. Me pergunto o que rolou na cabeça do Azevedo ao ter uma ideia dessas. É genial! Logo no começo da resenha eu já pude dar algumas risadinhas, além de ser uma abordagem divertida, é um assunto que me pareceu ser interessante. Eu acho que faz sentido a teoria defendida pelo personagem, talvez seja verdade, o corpo humano é um mistério! Hahaha
Mas assim, essa relação entre o velho e a princesa ficou meio estranho. Não fiquei muito surpresa, até porque nas histórias tudo é possível né, contudo, pensando numa criança leitora da obra, se torna um tanto quanto preocupante, mesmo ele rejuvelescendo depois e tudo mais.
Muito bacana a discussão, pessoal! Quanto à resenha, meninas, como alguns colegas, também deixaram de situar o livro no contexto das narrativas juvenis contemporâneas, considerando as discussões que fizemos a partir do artigo de Gabriela Luft sobre o tema, que é um dos critérios de avaliação da resenha. No mais, parabéns! Desejo que a atividade tenho sido significativa para todos vocês.
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