Saturday, March 11, 2023

Trezentos parafusos a menos



Ricardo Azevedo, escritor e ilustrador paulista, nasceu em São Paulo, em 1949. É formado em Comunicação Visual pela Faculdade de Artes Plásticas da FAAP. Teve a 1ª edição de sua obra "Trezentos Parafusos A Menos", publicada em 2002 pela editora Companhia das Letrinhas.


A obra nos apresenta ao cotidiano de Tatiana, que costumava ser tão metódico por conta da rotina regrada de seu pai, se transformar drasticamente após Seu Luís receber uma intimação.

A narração é uma clara representação de como ter um objetivo à se alcançar é importante em nossas vidas. E também traz muitas reflexões de como ter uma rotina extremamente planejada ou não ter nenhuma pode bagunçar sua vida, também é possível observar como uma base familiar sólida é importante, já que a falta dela pode ser muito desgastante e exige demais das crianças.

Ricardo representa muito bem a forma como na maioria das vezes o comportamento adulto não faz sentido aos olhos das crianças, por sua liguagem de fácil entendimento e um ritmo envolvente é notável  o porquê a história é sensível e divertida, com tantos acontecimentos descabidos que te prende e flui, pois quando você pensa que não pode acontecer mais nada, a família de Tatiana te prova o contrário.

Alunas: Laysa, Milleny e Paula Mendonça.

Friday, March 10, 2023

O Mistério da Casa Verde: loucos são aqueles que se dizem detentores da sanidade.

 “O Mistério da Casa Verde” é um livro escrito por Moacyr Scliar, publicado em 2000 pela Editora lelivro. O livro breve, fino, contendo apenas 10 capítulos curtíssimos, conta a história de quatro amigos; Arthurzinho (o Xereta), André Catavento, Pedro Bola e Leo, que estão em busca de um lugar perfeito para montar seu clube.

A narrativa se passa em Itaguaí-SP, onde se localiza a Casa Verde, que em séculos anteriores foi alvo de Machado de Assis para o seu romance “O Alienista”. Toda a história deste livro de Moacyr se debruça a partir da criação de Machado. É um livro feito sob encomenda com o intuito de convidar um novo público a conhecer os clássicos da literatura.

Scliar apresenta a estrutura-Introdução, Conflito e Conclusão- disposta de uma maneira que torna a leitura rápida e até mesmo divertida.

Os primeiros três capítulos apresentam os personagens, suas personalidades e conflitos entre si, como chegaram a descobrir a casa verde e a primeira surpresa. Ao chegarem em um acordo sobre a localização do clube (mesmo não sendo tão aceita por todos no grupo), os meninos têm de bolar um plano para poderem adentrar aquela insondável residência.

Depois dessa primeira etapa ser concluída, eles encontram mistérios ainda mais instigantes a serem resolvidos. Quem era aquele estranho morador? Por que o local estava tão limpo? De onde vieram as bananas?

Um novo conflito se inicia, os amigos Arthurzinho e Leo decidem ir conversar com o sujeito de cabelos desgrenhados e roupas esquisitas. Contando com a ajuda da professora Isaura-assídua defensora de Machado e apaixonada por suas obras- procuram entender a história do alienista, o doutor Simão Bacamarte, para entenderem a esdrúxula figura da casa. Tudo dá errado. Mas os planos de Arthurzinho são incessáveis, para a alegria (ou decepção) de seus colegas.

Após encontrar sua paixão, e descobrir quem era e qual era o propósito da mesma, Arthurzinho se encontra predestinado a ajudar a bela donzela. Uma tarefa que exigirá de muitas forças envolvidas, resultará em discussão e, por fim, a narrativa se fecha com reencontros, amor e o descobrimento de um talento inesperado.

Sob a minha visão, como leitora assaz interessada em discussões sobre mistérios e suspense, o livro cumpre seu propósito. Estou intrigada para ler “O Alienista” e saber mais sobre a história que levou o pobre homem da casa verde à loucura. Mas acho também que essa escrita de Moacyr poderia ter sido um pouco maior, cumpre seu papel, mas gosto de ver um pouco mais de desenvolvimento em uma história, tenho a mania de querer saber a todo momento o desenvolver dos personagens, saber se Arturzinho e a bela tiveram mais conversas pelo telefone, se André fez fuxicos sobre os dois aos amigos ao encontrar-los na pizzaria; se os dois chegaram a se desentender em algum momento após a comoção em frente a casa verde. Mas levando em consideração que é um livro destinado justamente a um público que não tem tanto contato com a leitura, é uma leitura satisfatória, até prazerosa considerando-se que pode ser lida em um dia de sábado onde a preocupação é matar o tempo, e por que não fazê-lo com conhecimento?

Ademais, Moacyr é um grande autor, já tendo escrito “Ciumento de Carteirinha” onde homenageou outro grande clássico de Machado de Assis, “Dom Casmurro”. Dois grandes escritores de grandes épocas, será sempre um prazer adquirir mais e, também, propagar mais conhecimento sobre esses nossos “tesouros”.

Discentes: Maria Eduarda. Rian.

Tempo de Menino, Domingos Pellegrini

 


              Domingos Pellegrini Júnior nasceu em Londrina – PR em 1949. Morou em Londrina (onde passa a maior parte de sua vida), São Paulo e atualmente, novamente mora em Londrina. O escritor é romancista, contista, poeta, jornalista e publicitário. Os gêneros literários que praticou foi conto, novela, poesia, romance e crônica. Suas principais obras são “O homem vermelho” (1977), “A árvore que deva dinheiro” (1981), “O caso da Chácara Chão” (2000). Domingos Pellegrini é, sem dúvida, um dos nomes mais significativos da prosa brasileira contemporânea. Um escritor de talento, que prefere, contudo, auto-intitular-se “um contador de histórias”. Domingos dedicou-se progressivamente a produção de textos destinados ao público infanto-juvenil, principal interlocutor de sua obra, buscando sempre, desenvolver uma linguagem na escrita, sendo esta simples e objetiva.

              Nas cinco histórias reunidas em TEMPO DE MENINO há um claro tom de nostalgia e o delicioso sabor de descoberta do mundo. São importantes episódios cruciais na vida de seus personagens, que, mesclando graça, ternura, ingenuidade e amargura, falam daquele tempo fascinante em que a criança começa a perceber um mundo novo: o mundo dos adultos. Tempo de Menino traz a marca de um autor que sabe contar histórias de modo fácil e envolvente. Ao relatar experiências importantes na vida de qualquer garoto, Domingos Pellegrini vai revelando a complexidade das relações humanas envolvidas em situações aparentemente banais. Um livro que, por certo, vai permitir ao leitor viver e reviver todo o encantamento do seu tempo de menino. Em cinco contos, o autor reconstitui emoções vividas por alguém que - na infância ou juventude - descobre o mundo. Na leitura desta obra, há algo que se extrai em termos de amadurecimento, de conhecimento do mundo e das pessoas. Ler Tempo de Menino pode-se tornar uma experiência de vida.

            Algumas crianças têm a sorte de amadurecer aos poucos, sem traumas. Para outras, esse processo se dá através de uma experiência dolorosa – às vezes até mesmo uma perda que fere no íntimo e abala tudo ao redor. Assim são as histórias de Tempo de Menino.

         Entre os cinco contos da obra, Tempo de Menino, dois deles estão escritos em primeira pessoa, nos quais os narradores são os próprios meninos-protagonistas: “Visita ao zoológico” e “Minha estação de mar”. O autor conta as histórias das histórias.

            Em Tempo de Menino, Pellegrini afirma em entrevista à editora que publicou a obra, como as lembranças da infância, dos desentendimentos dos pais, do lado pessoal de uma forma geral, tiveram forte influência na sua literatura (1997). Em Meninos e meninas o autor confessa, em outra entrevista, como os contos, de uma forma geral, são recriações literárias de passagens da vida dele.

            Todas as obras têm um pouco de mim aqui ou ali, de um jeito ou de outro. Às vezes, sou o menino, às vezes, o pai. Glória é uma menina bem parecida com o menino que eu fui. A menina de “Quadrondo” sofre com a separação dos pais como sofri a dos meus. Já o conto “Volta ao mar” é uma espécie de continuação poética de “Estação de mar”, conto que está no livro Tempo de menino. (...) Este livro é como um casarão, só que reúne “contos parentes”. (1998, p.101)

“Visita ao Zoológico”: O pai prometera levar o filho ao zoológico, mas adiava sempre, pois era preciso que ele merecesse. Estava aprontando constantemente. Era muito travesso.

Certo dia, tirara as agulhas de crochê da Vó para fazer ponta de flecha. Diante de suas reclamações, ainda respondera:

“ – Que que a senhora faz com a aposentadoria do Vô? A senhora nunca põe um tostão em casa!” Pobre Vó. Chateada, ficou três dias trancada em seu quarto. Com certeza, ele ainda teria que continuar esperando a oportunidade para ir visitar o zoológico

        Passaram-se vários domingos e nada! Até que num dia qualquer o seu sonho se realizou. Seu pai havia sido despedido do emprego e mesmo assim resolveu cumprir com a promessa: levá-lo ao zoológico. Falou que tinha aprendido com seu Vô que quando as coisas não vão bem, é hora de fazer uma festa. E assim, o garoto pediu pipoca, sorvete, chiclete...

            Seu pai não gostava de zoológico, porque os bichos ficam enjaulados e isto para ele, não tinha graça, despertava tristeza.

          Correu, brincou, observou atenciosamente os animais: tigre, gorila, girafa, zebra, cobra, jacaré... Estava na hora de voltar. Viu a onça e lembrou da mãe, porque estava sempre a ralhar por qualquer motivo. E o seu pai lhe disse que ela era uma mistura de galinha choca com loba braba. E a Vó, uma mistura de raposa com cobra; porém, na verdade, ela era apenas uma gatona velha.

          No conto “Homem ao mar” em Tempo de menino (1997), Pellegrini conta a estória de pai e filho que passaram por apuros depois que o filho caiu no mar revolto durante uma pescaria. O autor narra da seguinte forma a preocupação do pai diante do perigo iminente:

          Agora, o pai sabe que não tem tempo de explicar nada, sabe o que deve fazer e faz. (...) pulou de ponta, sai de perto filho, vê que outra onda já vem vindo lá atrás. Nada para frente! – grita aprontando – Vamos furar a onda! Lê o pensamento no olhar do filho: será que ele ficou louco! (PELLEGRINI ,1997: 67).

          O conto “A última janta” faz uma metáfora interessante mesclando elementos de índices e informantes. Para isso o texto narra a estória de um menino que morava com a mãe em uma pensão onde peões vinham jantar. A descoberta do mundo e das coisas se dá por meio da mistura da comida e do processo de transformação que esta faz no corpo humano. Em um dado momento um agenciador de nome Zé come diante do menino que, como qualquer outro da sua idade, faz muitas perguntas. Na medida que o agenciador come e mistura o arroz, o feijão, a carne, o menino pergunta e descobre novos mundos:

– Por que a gente come, Zé?

O agenciador riu; os peões da mesa riram.

– Bom – começou – tudo o que a gente come vira alguma coisa dentro da gente.

O menino ia abrindo a boca devagar, o queixo pendendo.

– O bife vira músculo. Deixa eu ver.

Apalpou o braço de menino.

(...) – E o arroz vira o quê?

– Arroz não é branco? Vira osso, vira dente.

(...) – E o feijão?

O feijão banhava o fundo do prato, lambuzava os pedaços de bife; num canto ia aparecendo abobrinha picada. (PELLEGRINI, 1997: 21).

           Uma das características mais marcantes do trabalho literário de Pellegrini, são as muitas histórias que envolvem crianças, na verdade, meninos, adolescentes homens ou jovens no início da idade adulta. Um viés que começou logo no início da carreira do escritor com a obra Meninos, de 1977. É importante fazer um breve parêntese para salientar a onipresença do nome “menino” em grande parte dos livros e/ou dos contos que o autor escreveu desde a década de 70. Logo após Meninos (1977), temos Os meninos crescem (1988).



Aluna: Roseni Barbosa

Lis no peito: um livro que pede perdão - Quando acabardes este livro, chorai por mim uma aleluia.

  O livro “Lis no peito: um livro que pede perdão” publicado em 2005, pelo escritor Jorge Miguel Marinho, contém uma narrativa poética, um livro sensível, com
adversidades que poderiam ser vivenciadas por qualquer adolescente e são retratadas de forma natural e delicadas pelo autor. 

    Ganhador do prêmio Jabuti (2006), classificado como infanto-juvenil, é uma boa pedida para quem intenciona apresentar Clarice Lispector aos jovens já que ela vagueia entre diálogos,  permeando os conflitos internos e externos dos personagens, contendo opiniões já formadas de Miguel Marinho, o que pode auxiliar na compreensão por parte do leitor que desconhece sua obra, porém não pense que é um livro estreitamente sobre Lispector pois pode se decepcionar. 

    A obra se inicia com um conflito entre o narrador (que é um autor personagem) e o personagem principal da estória, Marco César. Ao longo da narrativa é notável o vínculo que se é estabelecido entre os dois, e por conta disso a confiança em que Marco, um adolescente de dezessete anos sente em confessar para ele um crime, crime este cometido em razão de um torpor de emoções, embevecido de frustração após avistar sua até então enamorada dando o que acreditava ser seu por direito, o primeiro beijo, a outro rapaz, Marco comete uma série de ações na tentativa de causar o mesmo sentimento que foi experimentado por ele em Clarice, sua amada. 

    Clarice neste enredo se divide em duas, a escritora Clarice Lispector e a personagem, uma garota conhecida por Marco na escola, que não por acaso é aficionada em Clarice, a que escreve, e por causa dessa paixão que a menina possui em seus livros, nós leitores recordamos diversas passagens e trechos de sua obra e Marco passa a conhecer e se perceber em Clarices.  A adolescente, primeiro amor do personagem principal, é retratada pelo narrador como um deslumbre, vista aos cantos e curvas por Marco, essa descrição pode causar certo incômodo ao leitor, já que estamos falando de um narrador personagem adulto descrevendo de forma até mesmo sensual uma adolescente. 

      É nítido o amadurecimento emocional que os personagens sofrem ao longo do enredo, e esse amadurecimento conta com a ajuda de Lispector, que vaga no cotidiano e força a introspecção e  refletimento nas ações que são cometidas por eles e por outros, como destaca Gabriela Luft em seu artigo “A tendência predominante nas narrativas juvenis brasileiras contemporâneas explora, de maneira geral, temáticas acerca do amadurecimento e da aprendizagem humana de jovens protagonistas que buscam o conhecimento de si mesmos e dos outros” e isso é abordado dentro da obra, a vontade do personagem principal se enxergar e reconhecer em outro.

    Ao longo de todo o enredo o narrador segue se desculpando e pedindo perdão por Marco, como se nós, os leitores estivéssemos em condições de julgá-los e decretar para eles então a pena a ser cumprida, e isso não escapa ao final do livro, com o autor se sentido culpado por não se julgar imparcial ao recontar o que lhe foi relatado por Marco, pois para ele o menino merece perdão e não se opõe em suplicar se preciso for “Por fim, como mais uma palavra final que não se pretende definitiva, uma palavra que eu espero que fique ecoando como um clamor, peço mais uma vez o seu perdão para o meu amigo.”


Alunos: Amanda Teixeira, Araís Aloé e João Gabriel.


O dia em que Felipe sumiu


 "O Dia em que Felipe Sumiu" é um livro infanto-juvenil escrito por Milu Leite, publicado originalmente em 1987. A obra conta a história de Felipe, um menino muito travesso que acaba se perdendo em um passeio com a escola no zoológico.


A narrativa é contada a partir do ponto de vista de diferentes personagens, como a professora, os colegas de classe e a mãe de Felipe. A cada capítulo, o leitor tem acesso a uma nova perspectiva e informações que ajudam a montar o quebra-cabeça da história.


A escrita é simples e envolvente, ideal para crianças e jovens que estão iniciando na leitura. Além disso, a autora consegue transmitir com habilidade as emoções e pensamentos dos personagens, criando uma empatia com o leitor.


O livro aborda temas importantes, como a responsabilidade e a importância de seguir as regras, mas também traz uma reflexão sobre as consequências das escolhas que fazemos na vida. A história também mostra a solidariedade e o companheirismo entre os colegas de classe, que se unem para ajudar Felipe.


Em resumo, "O Dia em que Felipe Sumiu" é uma obra cativante e emocionante, que ensina importantes lições de vida de forma simples e acessível para o público infanto-juvenil. O autor demonstra sua habilidade em construir uma narrativa envolvente e capaz de prender a atenção dos leitores até o final.

Alunos: João Lucas & Thiago

A distância das coisas – Flávio Carneiro

 

 ( Beatriz e Ana Clara) 

A Distância das coisas (Edições SM, Flávio Carneiro) narra sobre o que é essencial: o amor. Será que a distância é capaz de diminuir um sentimento tão verdadeiro? Na narrativa, o personagem partilha suas dúvidas, saudades, intuições e as pistas que leva o protagonista à procura de sua mãe.

 

Sinopse: A distância das coisas conta, em primeira pessoa, a história de Pedro, que perdeu seu pai quando ainda era pequeno e, agora, aos 14 anos é avisado pelo tio, que sua mãe não sobrevivera a um acidente de carro. Seu drama não acaba aí. Sem ter permissão para acompanhar o enterro, passa a se questionar se a mãe realmente morreu, e começa a remexer as memórias de sua vida. Vai, ainda, atrás do ex-namorado da mãe, para resgatar os momentos que passou com ela.
A técnica narrativa do experiente Flávio Carneiro provoca um forte sentimento de identificação com o protagonista. O leitor passa a acompanhar de perto suas dúvidas, angústias e projetos. Cria-se uma atmosfera de suspense que aos poucos é resolvida com as estratégias elaboradas por Pedro para saber a verdade.

Conheça a história:

Pedro perdeu seu pai em um acidente de carro ainda muito pequeno, aos três anos de idade. Muitos anos depois, sua mãe morre da mesma forma. Inconformado, ele não acredita que as duas pessoas que mais amou na vida possam ter morrido do mesmo jeito. Sente-se sozinho, mesmo vivendo com um tio, irmão de sua mãe, que ficou responsável por sua criação. Seu tio quase sempre ausente pelo trabalho, o deixava a maior parte do tempo com sua empregada Irene, a qual ajudava cuidar do menino.

 

A vida de seu tio e a morte de sua mãe são um mistério para o jovem de 14 anos. Suas desconfianças se deflagram quando não tem a chance de ir ao enterro da mãe. Tendo como confidente uma amiga do colégio, Marina, que se revela o seu primeiro amor, a personagem tenta, de todas as formas, descobrir pistas que comprovem que a mãe ainda está viva, contando com as limitações próprias de sua pouca idade, mas com uma forte intuição que lhe serve de guia.

 

 

Sobre o livro

O livro possui uma narrativa em primeira pessoa, de cunho autobiográfico: ao mesmo tempo que o protagonista se apresenta como personagem, também atua como narrador na trama. Desta forma, temos um personagem-narrador. O leitor se sente confidente das suspeitas que o protagonista alimenta acerca da morte da mãe, pelo diálogo que estabelece, a todo momento, com o leitor. À medida que a narrativa se desenvolve, os laços entre personagem-narrador e leitor se estreitam, tornando-os cúmplices.

 

Utilizando-se de uma linguagem jovial e descontraída, o autor ambienta o leitor de forma magistral no mundo de um personagem de 14 anos. O autor propõe o suspense, o que aumenta o nível de expectativa do leitor, mantendo um excelente ritmo da narrativa, construída por períodos curtos e objetivos, entremeados de diálogos ágeis.


No meio da noite escura tem um pé de maravilha: Baú de lembranças

 



No meio da noite escura tem um pé de maravilha é um livro de contos folclóricos de amor e aventura escrito por Ricardo Azevedo em 2002. Esta obra reúne dez contos históricos que circulam no Brasil, recontados e ilustrados pelo autor. Sua escrita revela uma qualidade que é característica dos contos de tradição oral: a reflexão sobre a vida e suas dificuldades, o ensinamento ético e a representação das qualidades humanas, tornando os  textos literários plurissignificativos e possibilitando diferentes leituras.

O livro possui uma linguagem acessível a todos os seus leitores, juntamente com suas ilustrações que possuem uma representação nordestina (própria do cordel) que permite uma imaginação a priori sobre cada conto presente, reforçando a ideia da ilustração cordelista, a capa possui elementos ilustrativos que em conjunto com o título pode despertar no leitor uma curiosidade a respeito dos contos folclóricos.

Entre os dez contos do livros, merecem destaques os seguintes contos:

“Moço bonito e imundo” que retrata um rapaz que vivia tranquilamente até a morte dos seus pais. Diante da situação, ele se vê obrigado a sair pelas ruas em direção ao destino contando com sua sorte. Mas, um certo dia, acontece um encontro inesperado com o “coisa ruim”, “beiçudo”ou  “diabo”, onde surgiu uma proposta irresistível naquele momento que mudaria a vida do moço. O conto traz questões que abordam temas como perdas, coragem, perseverança; situações e atitudes que  ajudam a amadurecer para enfrentar os problemas e conflitos.

“Coco verde e melancia” nos conta uma história sobre um encontro entre dois jovens: Coco verde e Melancia (pseudônimos) traz à tona a dificuldade de um amor proibido, que por um lado há a ganância e ego, já  no outro lado  apenas o coração puro de dois apaixonados.

“As três noites do papagaio” conta as artimanhas feitas por um rapaz, com a ajuda de uma velha feiticeira, para conseguir ficar com uma bela moça, já casada com um vendedor ambulante.

O filho mudo do fazendeiro conta o estratagema usado por uma jovem para conseguir fazer com que um rapaz, que vivia deitado numa cama sem nunca dizer uma palavra, voltasse a falar.

De acordo com Luft em seu artigo “A literatura juvenil brasileira no início do século  XXI: autores, obras e tendências” podemos associar o livro de Ricardo Azevedo em um contexto de limites cronológicos (1921-1944), onde Luft introduz “os aspectos mais recorrentes nas obras destinadas a crianças e jovens são o nacionalismo, o predomínio do espaço rural, a exploração da tradição popular em lendas e histórias e a inclinação educativa”. Podemos dizer que é um livro  de contos repleto de lendas contadas de bisavô para avô, que passa para pai, até chegar ao filho, visando o aspecto histórico, contendo fortes características nordestinas nos fazendo lembrar de aspectos cordelistas; Com ilustrações vibrantes e chamativas que faz com que o leitor entre nesse universo folclórico.

É uma obra premiada em 2003 com o prêmio Jabuti na categoria “Literatura Juvenil”, através da escrita de Ricardo Azevedo podemos perceber no livro temas como regionalismo, como dado exemplo no primeiro conto, onde o autor traz inúmeras nomenclaturas diferentes  para se referir ao “coisa ruim”, com isso, conseguimos a perceber a forte representação nacional no livro. São histórias que foram se modificando ao longo dos tempos, a maioria delas trazidas pelo autor do folclore europeu, mas, com alterações brasileiras se adaptando à cultura local, mantendo sempre um ensinamento valioso ao final da jornada “moral da história”. A estrutura do texto com frases curtas é convite para leitura em voz alta, que pode encantar os leitores de diversas idades. Para quem gosta de ler sobre contos ou até aqueles que não estão acostumados, esta obra é um convite perfeito para se aventurar dentro das histórias dessa maravilha.


Acadêmicos: Lorena Lopes e Felipe Miguel.






P.S. Beijei.

 




P.S. Beijei é um livro escrito pela autora Adriana Falcão e lançado na sua primeira edição pela editora Moderna Paradidático em 2004. Falcão nasceu no Rio e mudou-se para Recife aos 11 anos. Mesmo após o suicídio de seus pais Falcão seguiu com a vida e se formou em Arquitetura, porém nunca chegou a exercer a profissão de arquiteta, já que logo achou sua vocação na literatura. Publicou seu primeiro romance, A Máquina em 1999 e embora tenha diversas obras literárias, Falcão chegou a trabalhar em roteiros e produção de longas-metragens, como o icônico O Auto da Compadecida (2000).


P.S. Beijei (2004) conta a trajetória de conversas por meio de e-mail entre duas amigas, Alice e Beatriz, que estão passando as férias de verão longe uma da outra e a jornada pessoal de ambas em busca do primeiro beijo. 


A estrutura da obra pode ser vista como “exótica”, todo o texto é mostrado à partir de e-mails trocados entre as protagonistas, com informações típicas desse tipo de documento, data e hora de envio, um tópico de assunto em todas as mensagens, e a linguagem usada é informal, o que encaixa no tema levando em conta a idade das personagens.


Beatriz vai passar as férias na casa da avó no interior do estado de São Paulo enquanto Alice fica na capital, mas para o choque de Beatriz sua avó comprou um computador, o que acaba possibilitando uma comunicação à distância entre as amigas. As conversas de Alice e Beatriz começam descontraídas, com ambas discutindo seus objetivos para o mês que vão passar separadas, entre eles o primeiro beijo, isso parafraseando com o trabalho que Beatriz tem ao ensinar sua avó a utilizar o computador recém-comprado. Conforme os dias passam, Alice se prepara psicologicamente para uma festa onde a banda de seu irmão irá tocar e Beatriz conta do desenvolvimento da sua amizade, forçada por sua avó, com o filho de uma vizinha. Com o andar da história, o dia da festa chega, onde Alice dá seu primeiro beijo com um garoto não aprovado por Beatriz, o que acaba abalando a amizade das duas, depois de sumir por alguns dias, Beatriz retorna a responder Alice, só que com uma personalidade completamente diferente do que ela costumava ter, e agora Alice faz de tudo para tentar voltar ao que era antes com sua melhor amiga.


Falcão trabalha muito bem o comportamento de adolescentes, ela consegue passar veracidade nos diálogos mesmo já sendo uma mulher adulta, que cresceu em uma época diferente da retratada no livro. A autora consegue trazer de volta o sentimento de juventude que só se vive uma vez na adolescência, onde as maiores preocupações de alguém são coisas simples, como o tão esperado primeiro beijo. A amizade das protagonistas é trabalhada de uma forma em que o leitor consiga se apegar à elas em poucas páginas. Para um livro tão curto, o misto de sensações que a obra passa chega a ser absurdo, o conflito principal funciona muito bem. A resolução no final traz consigo uma sensibilidade incrível com o choque de gerações envolvendo histórias da avó de Beatriz, mostrando que mesmo em épocas diferentes, adolescente segue sendo adolescentes.




Alunos : Saulo, Pietro.

Pobre corinthiano careca: uma mistura envolvente de crônicas e memórias sobre a paixão pelo futebol.

 

"Pobre Corinthiano Careca" é um livro escrito por Ricardo Azevedo que narra a história de um torcedor fanático do Corinthians e suas aventuras em busca de sua paixão pelo futebol. O livro, publicado em 2016 pela editora Geração Editorial, é uma mistura de crônicas e memórias que trazem à tona as experiências do autor como torcedor e os sentimentos que o futebol desperta nas pessoas.

A obra tem um tom bem-humorado e descontraído, o que faz com que o leitor se identifique facilmente com o protagonista. Azevedo é um cronista experiente e sabe como prender a atenção do leitor com suas histórias engraçadas e emocionantes. O livro é dividido em diversos capítulos curtos, o que facilita a leitura e torna a experiência mais agradável.

Além de contar suas próprias histórias, Azevedo faz uma análise interessante sobre o papel do futebol na sociedade e na vida das pessoas. Ele discute temas como a rivalidade entre torcidas, a paixão pelo esporte e a influência do futebol na cultura brasileira. Esses temas são abordados de forma leve e descontraída, mas sem perder a seriedade e a profundidade.

Outro ponto positivo do livro é a forma como Azevedo consegue expressar sua paixão pelo Corinthians. O autor é um torcedor fanático do time e sua devoção é claramente refletida em suas palavras. Ele descreve as emoções de um jogo de futebol de forma vívida e emocionante, o que faz com que o leitor se sinta parte da torcida.

Em resumo, "Pobre Corinthiano Careca" é um livro divertido e emocionante que vai agradar tanto aos fãs de futebol quanto aos que não são tão aficionados pelo esporte. Com uma linguagem acessível e uma narrativa envolvente, Rodrigo Azevedo nos convida a conhecer um pouco mais sobre sua paixão pelo Corinthians e sobre a cultura do futebol no Brasil.

Por:Felipe Tavares Palma

Thursday, March 9, 2023

O Olho de Vidro do Meu Avô: Enxergar além do real




  



































 Bartolomeu Campos de Queirós apresenta em sua obra "O Olho de Vidro do Meu Avô" (2004), uma visão de um menino sobre a vida de seu avô, principalmente após o uso constante de um olho de vidro azul, que o neto indagava sobre os mistérios que aquele olho parecia ver e enxergar.

Escrito em períodos curtos, o narrador retrata suas dúvidas e curiosidades a respeito de seu avô, relembrando momentos de seu passado e questionando sobre sentimentos que envolvem suas relações familiares, e também há uma dúvida permanente sobre o olho de vidro de seu avô. Dentro dessas dúvidas, o neto cria metáforas sobre as metades de seu avô, onde o olho direito enxergava a realidade e o esquerdo criava coisas novas.

A narrativa da história é fluida e desperta no leitor lembranças adultas da infância. Os períodos curtos dão a impressão de que a história se passa dentro do pensamento do narrador, entre uma informação e outra ele insere uma reflexão, algumas expressões e ditados populares.

Como na descrição dos personagens no texto de Gabriela Luft, aqui não encontramos a presença direta de antagonistas, a história é toda pela visão do protagonista, porém em alguns pontos da história o narrador nos permite ver algumas falhas de caráter do avô.

Na relação entre os familiares podemos ver uma falta de diálogo entre eles, como são divididos, como o avô vigiava seus filhos "com o olho de verdade". A situação da avó que sofre com a infidelidade do marido que a deixa sozinha e ela fica em silêncio, como todos parecem sempre estar, em silêncio. 

O texto que apesar de ter um tom de "criança contando história" é na verdade o neto já mais velho após alguns anos contando sobre a infância, sobre sua família e fazendo muitas reflexões dentro da história.

Dentre as reflexões, algumas são muito profundas e geram grande emoção sobre assuntos que talvez não estejam diretamente relacionados com a história, mas levam o leitor a pensar nelas.
    O texto me levou a pensar sobre a infância, sobre o tempo, sobre o que consigo ou não me lembrar, sobre o que eu vivo hoje, sobre como a vida daqueles personagens, que apesar de serem retratados com tanta reflexão me pareceu tão vazia. 

Me enxerguei nesse texto poético e reflexivo, como se estivesse vendo o meu próprio reflexo. Acho que todos nós vemos a vida de dois jeitos diferentes, pelo menos eu vejo. Um lado enxerga a realidade da vida, o outro, cria, imagina, fantasia, como uma fuga da realidade.

Confesso que com a leitura desse livro me surpreendi, me emocionei e refleti sobre diversos aspectos da vida. 
Me deixou encantada, e com sentimento de saudades da infância. 

Concluindo, depois da leitura do texto de Luft quando ela fala sobre os personagens e suas descrições, percebemos que se aplica muito bem nesse livro a questão psicológica do antagonista ou a falta dele, o tempo e o espaço, pois o narrador também traz uma reflexão sobre sua cidade e como o mundo todo poderia ter o nome da cidade onde o avô morava, afinal, quem não gostaria de morar em um Bom Destino?

"Eu também gostaria de possuir um olho assim, que estava distante de mim, sobre o criado.
Ter meu olho me espiando de longe. Quem sabe, eu me conheceria melhor? Conheceria minha superfície sem necessidade de espelho. Um olho capaz de vigiar meu sono, me protegendo dos fantasmas que nos visitam se descuidamos de nós. 
E dormir é descobrir-se de si mesmo. Dormir é ficar desarmado, é não ser mais proprietário do próprio corpo. Ah! Como o olho do meu avó me enchia de dúvidas!"


Por: Débora,Rubia e Tainá

Contos de Enganar a Morte: nessa brincadeira, somente um se safou


Contos de Enganar a Morte (2003), não é o primeiro trabalho de Ricardo Azevedo no folclore brasileiro. Nesse livro, temos a narração da Morte sendo ludibriada pelos personagens prestes a ‘’abotoar o paletó’’. O autor é marcado por reescrever contos populares e trazer para suas obras a linguagem coloquial, como por exemplo “esticar as canelas”, “bater as botas” e “entregar a rapadura” (falares encontrados no livro para se referir ao destino final, a morte).


A obra digna de Menção Honrosa no Prêmio Jabuti 2004, é dividida em quatro contos acompanhados de ilustrações de autoria do próprio escritor, onde a morte é escrita de forma lúdica e de linguajar fácil retratando esse tema incomum de forma leve e divertida, essencial para as crianças. Como destaca Gabriela Luft, no artigo “A literatura juvenil brasileira no início do século XXI: autores, obras e tendências” (2010), a partir dos anos 60 e 70, as inovações demandam maior complexidade dos elementos que configuram o discurso narrativo, por isso, “os livros infantojuvenis tiveram de variar seus temas, tanto para refletir os problemas de vida próprios da realidade dos leitores quanto para responder à preocupação educativa que, fruto de novas atitudes morais, debilitava o consenso sobre a preservação da infância e da adolescência como etapas inocentes e não contaminadas, pensamento comum na narrativa de décadas anteriores. Surgem, pois, narrativas mais centradas em ‘encarar os problemas, do que em ocultá-los’”. E assim Ricardo de Azevedo fez. 


No primeiro conto "O homem que enxergava a morte", um pobre homem sai às ruas em busca de alguém para apadrinhar seu sétimo filho. Deixado sem escolha, a Morte em pessoa o acolhe e faz um acordo com o sujeito: ele se tornaria um médico, e garantiria seu sucesso vendo a Dona toda vez que visitasse um adoentado. Chegando ao fim de sua vida, o médico se recusa a partir e fecha um acordo de que ela apenas o levaria quando terminasse de rezar uma Ave Maria. Tal acordo o protegeu por alguns anos até que cai numa armadilha criada e protagonizada pela própria e tem a vida ceifada.


Em "O último dia na vida do ferreiro", o personagem principal a caminho de casa encontra uma senhora faminta que o pede alimento. Após essa ação solidária, descobre que é uma mulher mágica que o concede três desejos, entre eles, uma viola, que quando tocasse, as pessoas não conseguiriam parar de dançar. Após um ano de vida a mais ganhado após ter botado a Morte para jingar, ele pinta os cabelos e põe uma barba falsa, mente ser o tio da própria esposa. No entanto, seu plano falha quando a Morte resolve levar sua alma no lugar da do ferreiro.


No terceiro conto, "O Moço que Não Queria Morrer", embarcamos em uma jornada em busca do lugar onde a morte não existe. Pessoas fazem propostas muito boas ao longo do caminho, mas para o moço, somente a vida eterna era o objetivo. Até que encontra esse tal lugar e vê que não seria tão feliz assim, nem mesmo com o amor ao seu lado, então decide voltar para casa. Lá nada era como antigamente. 500 anos se passaram e o moço que antes tinha tudo, agora não tem nada, nem mesmo sua vida.


Por fim, “A Quase Morte de Zé Malandro”, conhecemos um rapaz que gostava de passar a vida zanzando e jogando baralho. Um dia, Zé, muito bondoso, não nega comida a um velhinho que em retribuição lhe concede quatro pedidos. Zé Malandro enganou a morte, enganou o diabo, enganou a diaba e foi expulso do céu, e dizem, que ele ainda anda por aí, jogando seu baralhinho.


Ao decorrer de todo o livro, observamos o quanto os personagens apenas se preocupam em escapar da única certeza que todos têm: a morte. Ricardo sempre tem alguma cartada final por trás de seus livros, e com esse não seria diferente. Dessa vez ele enfatiza a importância de se preocupar com a vida, aproveitar cada segundo e as pessoas à nossa volta. Depois de tratar o assunto de forma cômica e criativa em seu livro “Contos de Enganar a Morte”, Ricardo Azevedo ainda aconselha seus leitores: “Segundo o ditado popular, não é preciso se preocupar com a morte. Ela é garantida e ninguém vai ser bobo de querer roubá-la da gente. O importante é cuidar da vida, que é boa, bela, rica, preciosa e inesperada, mas muito frágil. Ela, sim, pode ser roubada”.



Alunas: Isabela Moreno e Maysa Alves

Todos contra Dante: bulling e suas consequências.


 Florentino é novo na escola, gosta de ler A divina comédia, de Dante Alighieri, e carrega o apelido de seu autor amado. Ele vem de um bairro pobre, origem humilde e por esse motivo é excluído e hostilizado pelos colegas do colégio. Mas o que era para ser apenas "brincadeira" de adolescentes ganha dimensões trágicas e as conseqüências são devastadoras. 4 colegas agressores espancam Dante e ele acaba vindo à óbito. Só que até chegar a esse ponto, todos falam mal do menino, de sua família, zombam o quanto podem. Mesmo com o desenrolar da história, os personagens em momento algum se arrependem do que fizeram pelo motivo de que Dante está mal no hospital, mas sim porque ficam com medo de serem pegos.

Com uma linguagem ágil, Luís Dill constrói uma cuidadosa reflexão sobre nossa sociedade atual. E nesse cenário, quase sempre maquiado, a violência espreita.

Todos contra Dante se baseia - infelizmente - em fatos reais, onde uma menina foi espancada até a morte e o autor usa a obra para retratar a realidade das escolas. O leitor vai sentindo a dor do menino a cada passar de página, e o fim, infelizmente é trágico e doloroso.

Alunas: Grazieli e Mariam


O sábio ao contrário: o código genético dos puns



 Lançado pela primeira vez em 2009, o livro “O sábio ao contrário” de Ricardo de Azevedo traz uma narrativa lúdica e cômica que instiga, no interior, uma reflexão necessária à sociedade.

A obra utiliza uma linguagem simples e conta com ilustrações para enriquecer a narrativa, que por sua vez conta a história de um velho estudioso de uma ciência pouco conhecida: a ciência dos puns.

A pesquisa do sábio, perito na chamada “peidologia”, tinha o seguinte fundamento: todo ser vivo solta puns e a partir deles pode-se descobrir muito sobre quem os emite, quase como o código genético denominado DNA.

Com um objeto de estudo tão incomum, o protagonista era constantemente ridicularizado pelos moradores da vila em que vivia. Mesmo sem apoio, ele não desistia de seus estudos e de seu bom-humor, e sempre dizia: "Minha ciência é séria, a partir do pum de uma pessoa é possível entender se é uma pessoa feliz ou triste, rica ou pobre, criança ou adulto [...]", pois acreditava que sua ciência e seus estudos eram capazes de salvar a humanidade.

Certo dia, a filha do rei adoeceu. Médicos prestigiados foram chamados, mas nenhum foi capaz de identificar o que a menina tinha. O rei, desacreditado e aflito, resolveu dar atenção a uma criança, que deu a ideia de chamar o velho sábio da vila. Ao ser convocado, o velho sábio apareceu no quarto da princesa com um grande sorriso no rosto, coletou as flatulências da princesa e descobriu o problema: um nó na garganta que havia se formado, ao reprimir sentimentos ruins, que vieram de um dia em que encontrou uma criança sem-teto, revirando lixo para sobreviver. A filha do rei acabou falecendo, mas o sábio derramou seus medicamentos em seus lábios e ela voltou à vida. 

Para comemorar a saúde da princesa, o rei preparou uma enorme festa e ordenou ao sábio que pedisse o que quisesse: fama, títulos, riquezas... mas ele só queria se casar com a princesa. O rei, incrédulo com a diferença de idade, negou o pedido, mas a princesa aceitou como forma de agradecimento.

Durante um ano, o sábio se dedicou a passar todo o seu conhecimento e amor pela peidologia para a princesa, que acabou se apaixonando por ele verdadeiramente. Ao ouvir a declaração, o velho deu uma cambalhota para trás e se transformou num jovem. É revelado à princesa que, por ter cheirado os gases de um bruxo traiçoeiro, havia sido enfeitiçado, e que graças a seus estudos e ao amor, havia ficado livre. 

As ilustrações da obra nos remetem as xilogravuras da histórias de cordel, assim como o tema bem humorado e os episódios divertidos e comentários dos personagens. Afinal, dentre as poucas coisas que podem igualar um pobre e um rico, um brasileiro e um alemão, um bebê e um idoso são, como apresentado no livro: puns, que significam muito mais do que reações naturais do corpo. Significam o constante lembrete de que todos somos humanos: cheios de qualidades e defeitos. Ricardo de Azevedo soube encontrar todo o bom humor e profundidade presente em cada indivíduo em gases expelidos.

A única preocupação que a narrativa pode trazer é a escolha da característica mais marcante do personagem principal: sua idade. Quando a princesa aceita se casar com o sábio, sua aparência de ser muito idoso havia sido reforçada durante todo o livro, mesmo que depois a reviravolta final nos explique não ser bem assim. Seria interessante da parte do autor procurar outra alternativa para definir esse personagem tão peculiar, pois é muito persistente nos perguntarmos: será que uma criança não pode normalizar tamanha diferença de idade num relacionamento romântico? Que impactos isso teria na sua vida adulta?


Alunas: Ana Julia de Morais, Júlia Nunes e Ana Júlia Rissoni.

Wednesday, March 8, 2023

O fazedor de velhos: uma história que ensina a crescer.

 




No livro “O fazedor de velhos”, de Rodrigo Lacerda, acompanhamos - através de uma narrativa íntima, em primeira pessoa - a vida de Pedro, um jovem de classe média, apaixonado por literatura, que se vê entre a adolescência e a vida adulta, cercado por dúvidas, anseios e questionamentos.

O menino, apesar de gostar de livros clássicos e ter como companheiros autores como Shakespeare e Eça de Queiroz, era um garoto comum. Passou boa parte do ensino médio apaixonado platonicamente por uma garota que o trocou por outro rapaz na formatura e durante muito tempo, ficou em dúvida a respeito da faculdade e do seu futuro; nada que fuja dos padrões das histórias adolescentes. As partes incomuns dessa história ficam sob responsabilidade de uma outra figura, um pouco mais misteriosa, um velho professor com o qual sua vida se entrelaça curiosamente diversas vezes. Um senhor chamado Nabuco, ou o fazedor de velhos.

Após diversos encontros ocasionais entre os dois personagens, em um aeroporto e na formatura de Pedro, o jovem finalmente se aproxima da figura do professor quando se sente assombrado por questionamentos comuns na adolescência: Será que esse é o caminho certo? O que fazer do futuro? Ou o terrível: Desistir é uma opção? Dentre tantas dúvidas, a estranha figura do professor se revela como um mentor para o mais novo, e passa a usar de sua sabedoria para ensiná-lo sobre a vida e sobre seus sentimentos.

Durante a leitura da obra o leitor pode observar a construção de uma incrível e improvável amizade entre diferentes gerações, aprendendo e se emocionando com os diálogos e experiências dos personagens.

O livro, publicado em 2008, se mostra extremamente atual, e retrata com maestria temas comuns na vida adolescente: o amor, as amizades, a dificuldade em amadurecer e as dúvidas da escolha profissional. Utilizando dos conceitos que Gabriela Luft apresenta no texto “A literatura juvenil brasileira no início do século XXI: autores, obras e tendências”, podemos dizer que é uma história que viaja entre os gêneros do amadurecimento, da interpessoalidade e da vida em sociedade, e se mostra ideal para a formação social e leitora de jovens entre 12 e 15 anos, que se veem na mesma situação complicada do personagem e podem encontrar, na literatura de Rodrigo Lacerda, seu próprio Fazedor de Velhos.

O autor, já conhecido por livros como “Hamlet e Amleto” e “Vista do Rio”, traz à literatura infantil brasileira uma obra significativa que valoriza o poder da escrita contemporânea e faz jus as suas diversas premiações. O livro é essencial para ensinar, através da leveza da voz de um adolescente, sobre as dificuldades da vida e sobre a necessidade de ficção. A narrativa de “O fazedor de velhos” é envolvente, descomplicada e simples, capaz de encantar não só crianças e jovens, mas também adultos que desejam e precisam se reencontrar com seus sonhos esquecidos de infância. É uma leitura necessária e emocionante, que, através da simplicidade, pode transformar vidas e, de fato, ensinar a crescer.

 

Aluna: Júlia Papageorgiou

Sunday, March 5, 2023

Resenha de “Penélope manda lembranças”, de Marina Colasanti

      


Marina Colasanti nasceu em 1937 na cidade de Asmara, capital da Eritreia, localizada na região conhecida como Chifre da África. Em 1948, transferiu-se com a família para o Brasil, onde vive até hoje na cidade do Rio de Janeiro. Trabalhou como jornalista, escrevendo para o Jornal do Brasil, além de atuar também na televisão, na publicidade, e como tradutora. Em 1968, lançou seu primeiro livro, “Eu sozinha”, e escreveu diversos gêneros, como poesia, contos, crônicas, livros para crianças e jovens e ensaios sobre os temas literatura, o feminino, a arte, os problemas sociais e o amor.

A obra Penélope manda lembranças foi publicada em 2001, e é composta por seis contos: "Penélope manda lembranças", "A hora dos lobos", "Alguém ganha esse jogo", "Um homem tão estranho que...", "Na casa, à noite", "O homem de luva roxa". É ganhadora do prêmio da FNLIJ, na categoria “Jovem hors-concours” (Autor – Obra), no ano de 2001, e o livro é recheado de elementos fantásticos, expondo situações inusitadas pautadas pelo insólito e pelo mágico, como destaca Gabriela Luft.

Embora Colasanti apresente uma escrita madura, o que pode ser difícil em alguns momentos para o público infanto-juvenil, e os personagens da obra em questão sejam pessoas adultas, os elementos fantásticos, bem como as questões trazidas pelos contos, são de interesse dos mais jovens, pois trazem questionamentos de vários temas como saúde mental, vida familiar e social, processos identitários, etc. Além disso, como destaca Gabriela Luft, no artigo “A literatura juvenil brasileira no início do século XXI: autores, obras e tendências” (2010), a partir da década de 80, as obras voltadas ao público infantojuvenil passaram a apresentar novas estruturas e valores, abordando temas de “(...) maior complexidade, o qual se afasta dos pressupostos básicos de uma estrutura simples e um desenvolvimento cronológico linear (LUFT, 2010, p. 5)”.

Diante do exposto, acredito que Penélope manda lembranças é uma boa obra a ser apresentada ao público infantojuvenil, inclusive em sala de aula, pois pode proporcionar ricos debates, além de aproximar a faixa etária de várias discussões contemporâneas importantes, e ainda entrar em contato com uma das grandes escritoras brasileiras do século XX.


Referências:

Gabriela Luft – “A literatura juvenil brasileira no início do século XXI: autores, obras e tendências”. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 36. Brasília, julho-dezembro de 2010, p. 111-130




Alunas: Ana Clara e Beatriz

Friday, March 3, 2023

"Onde Tem Bruxa Tem Fada": A fantasia contra a esperança.



Onde Tem Bruxa Tem Fada é uma obra datada de 1979 e escrita por Bartolomeu Campos Queirós. Seguindo o artigo de Gabriela Luft, está obra faria parte do chamado quarto ciclo da literatura juvenil, em que a época era marcada pela dependência ao capitalismo e pela ocupação do cenário urbano como espaço principal, ela trata a realidade histórica ao mesmo tempo que expressa o fantástico e o imaginário.
 Na obra conhecemos uma fada, a Maria do Céu, que um dia desce pela luz da Lua até a Terra para realizar os desejos dos meninos. Porém, ao chegar, ela percebe que as coisas mudaram e que os meninos já não acreditam em fadas, que agora as coisas na Terra eram comandadas pelos mágicos e que os homens não tinham tempo para alegrias, pois só pensavam em dinheiro, fazendo alusão á época. Dentro da história podemos perceber essa alusão, e que a magia seria as mercadorias, já a esperança que os mágicos davam ás crianças era o desejo por elas.
A recomendação de idade para a leitura da obra é de 9 á 12 anos, essas reflexões introduzidas na história não seriam compreendidas pelas crianças, mas, o livro cumpre o que promete por seu enredo lúdico que desperta a curiosidade, se tornando uma obra com várias interpretações e podendo ser lida tanto por crianças quanto por adultos.
 No decorrer da história, Maria encontra um menino, este lhe faz um pedido, que é aprender a ler e escrever sem precisar ir à escola, sua felicidade é tamanha que ele aprende também outras disciplinas, como astronomia, história e política. Tal fato reascende a fé que a fada tinha em poder espalhar sonhos na Terra, porém, vem a descobrir que o menino foi censurado por “saber muito” pelos adultos, mais tarde, ela própria sofre as consequências de desrespeitar as normas impostas pelos mágicos.
Portanto, o que parece ser uma simples obra infantil, demonstrar profundidade ao fazer uma crítica social, especialmente contra o sistema capitalista, fator que os olhos mais atentos percebem, ao contrária das crianças, que, na maioria das vezes, são apenas apreendidas pelo realismo fantástico. Logo, fica claro que se trata da linha de fantasia, mesclado com história, bem como da denúncia social, mesmo que não esteja tão explícita para os pequenos leitores.



Alunas: Paula Soares e Maria Luiza