Thursday, March 9, 2023

Contos de Enganar a Morte: nessa brincadeira, somente um se safou


Contos de Enganar a Morte (2003), não é o primeiro trabalho de Ricardo Azevedo no folclore brasileiro. Nesse livro, temos a narração da Morte sendo ludibriada pelos personagens prestes a ‘’abotoar o paletó’’. O autor é marcado por reescrever contos populares e trazer para suas obras a linguagem coloquial, como por exemplo “esticar as canelas”, “bater as botas” e “entregar a rapadura” (falares encontrados no livro para se referir ao destino final, a morte).


A obra digna de Menção Honrosa no Prêmio Jabuti 2004, é dividida em quatro contos acompanhados de ilustrações de autoria do próprio escritor, onde a morte é escrita de forma lúdica e de linguajar fácil retratando esse tema incomum de forma leve e divertida, essencial para as crianças. Como destaca Gabriela Luft, no artigo “A literatura juvenil brasileira no início do século XXI: autores, obras e tendências” (2010), a partir dos anos 60 e 70, as inovações demandam maior complexidade dos elementos que configuram o discurso narrativo, por isso, “os livros infantojuvenis tiveram de variar seus temas, tanto para refletir os problemas de vida próprios da realidade dos leitores quanto para responder à preocupação educativa que, fruto de novas atitudes morais, debilitava o consenso sobre a preservação da infância e da adolescência como etapas inocentes e não contaminadas, pensamento comum na narrativa de décadas anteriores. Surgem, pois, narrativas mais centradas em ‘encarar os problemas, do que em ocultá-los’”. E assim Ricardo de Azevedo fez. 


No primeiro conto "O homem que enxergava a morte", um pobre homem sai às ruas em busca de alguém para apadrinhar seu sétimo filho. Deixado sem escolha, a Morte em pessoa o acolhe e faz um acordo com o sujeito: ele se tornaria um médico, e garantiria seu sucesso vendo a Dona toda vez que visitasse um adoentado. Chegando ao fim de sua vida, o médico se recusa a partir e fecha um acordo de que ela apenas o levaria quando terminasse de rezar uma Ave Maria. Tal acordo o protegeu por alguns anos até que cai numa armadilha criada e protagonizada pela própria e tem a vida ceifada.


Em "O último dia na vida do ferreiro", o personagem principal a caminho de casa encontra uma senhora faminta que o pede alimento. Após essa ação solidária, descobre que é uma mulher mágica que o concede três desejos, entre eles, uma viola, que quando tocasse, as pessoas não conseguiriam parar de dançar. Após um ano de vida a mais ganhado após ter botado a Morte para jingar, ele pinta os cabelos e põe uma barba falsa, mente ser o tio da própria esposa. No entanto, seu plano falha quando a Morte resolve levar sua alma no lugar da do ferreiro.


No terceiro conto, "O Moço que Não Queria Morrer", embarcamos em uma jornada em busca do lugar onde a morte não existe. Pessoas fazem propostas muito boas ao longo do caminho, mas para o moço, somente a vida eterna era o objetivo. Até que encontra esse tal lugar e vê que não seria tão feliz assim, nem mesmo com o amor ao seu lado, então decide voltar para casa. Lá nada era como antigamente. 500 anos se passaram e o moço que antes tinha tudo, agora não tem nada, nem mesmo sua vida.


Por fim, “A Quase Morte de Zé Malandro”, conhecemos um rapaz que gostava de passar a vida zanzando e jogando baralho. Um dia, Zé, muito bondoso, não nega comida a um velhinho que em retribuição lhe concede quatro pedidos. Zé Malandro enganou a morte, enganou o diabo, enganou a diaba e foi expulso do céu, e dizem, que ele ainda anda por aí, jogando seu baralhinho.


Ao decorrer de todo o livro, observamos o quanto os personagens apenas se preocupam em escapar da única certeza que todos têm: a morte. Ricardo sempre tem alguma cartada final por trás de seus livros, e com esse não seria diferente. Dessa vez ele enfatiza a importância de se preocupar com a vida, aproveitar cada segundo e as pessoas à nossa volta. Depois de tratar o assunto de forma cômica e criativa em seu livro “Contos de Enganar a Morte”, Ricardo Azevedo ainda aconselha seus leitores: “Segundo o ditado popular, não é preciso se preocupar com a morte. Ela é garantida e ninguém vai ser bobo de querer roubá-la da gente. O importante é cuidar da vida, que é boa, bela, rica, preciosa e inesperada, mas muito frágil. Ela, sim, pode ser roubada”.



Alunas: Isabela Moreno e Maysa Alves

8 comments:

  1. O livro parece muito divertido e diferente! Aborda um tema importante através do humor e de uma linguagem fácil e acessível para os alunos, algo muito positivo para que os jovens se aproximem da leitura no dia a dia!

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  2. Achei bem legal a forma como um assunto tão polêmico como a morte foi retratada de forma leve num livro infanto-juvenil, também gostei do uso das expressões idiomáticas.

    Aluna: Paula Soares

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  3. O livro aparenta utilizar de uma narrativa divertida e leve para tratar de um tema que pode ser difícil para o público mais jovem, mas que acaba sendo suavizado. Além disso, traz belos ensinamentos a respeito da vida e da importância de valorizá-la. (Ana Clara Ferreira)

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  4. ALUNA: Lorena Lopes
    Gostei da resenha! Pelo que percebi o autor consegue tratar de um tema muitas vezes evitado por nós de uma maneira leve e irônica, trazendo algumas expressões regionais uma característica de Ricardo Azevedo. O título do livro e a imagem da capa me despertou uma dúvida: Como enganar a tal morte?. Ainda não li todos os contos do livro, mas acredito que nos ajuda a refletir um pouquinho sobre a vida.

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  5. Aluno: João Lucas
    A resenha me despertou uma curiosidade referente ao livro, afinal esse assunto é de grande importância na formação de uma pessoa e é tratado de uma forma mais leve e dicertida, para que possam entender o que se trata sem se assustarem, parece ser uma leitura divertida.

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  6. A resenha consegue demonstrar que o livro consegue tratar um assunto sério/pesado de forma leve e com muita criatividade com uma linguagem não muito complexa.

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  7. Fiquei curiosa para ler a obra, ela trata um assunto importante e na maioria das vezes delicado para o público infanto juvenil de uma maneira leve e divertida, gostei do fato de ter uma linguagem mais coloquial e cheio de expressões idiomáticas, elas tornam a leitura prazerosa e interessante

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  8. Isabela e Maysa, de fato, o melhor é se preocupar com a vida, já que esta, sim, alguém poderá roubar de nós... Pessoal, leia mesmo, é um livro bem divertido e trata de questões sérias com leveza e humor, conforme vocês já pontuaram. Quanto à resenha, só faltou situar o livro no contexto das narrativas juvenis contemporâneas, considerando as discussões que fizemos a partir do artigo de Gabriela Luft sobre o tema, que é um dos critérios de avaliação da resenha. No mais, parabéns! Desejo que a atividade tenho sido significativa para todos vocês. Abraços

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