Saturday, March 11, 2023

Trezentos parafusos a menos



Ricardo Azevedo, escritor e ilustrador paulista, nasceu em São Paulo, em 1949. É formado em Comunicação Visual pela Faculdade de Artes Plásticas da FAAP. Teve a 1ª edição de sua obra "Trezentos Parafusos A Menos", publicada em 2002 pela editora Companhia das Letrinhas.


A obra nos apresenta ao cotidiano de Tatiana, que costumava ser tão metódico por conta da rotina regrada de seu pai, se transformar drasticamente após Seu Luís receber uma intimação.

A narração é uma clara representação de como ter um objetivo à se alcançar é importante em nossas vidas. E também traz muitas reflexões de como ter uma rotina extremamente planejada ou não ter nenhuma pode bagunçar sua vida, também é possível observar como uma base familiar sólida é importante, já que a falta dela pode ser muito desgastante e exige demais das crianças.

Ricardo representa muito bem a forma como na maioria das vezes o comportamento adulto não faz sentido aos olhos das crianças, por sua liguagem de fácil entendimento e um ritmo envolvente é notável  o porquê a história é sensível e divertida, com tantos acontecimentos descabidos que te prende e flui, pois quando você pensa que não pode acontecer mais nada, a família de Tatiana te prova o contrário.

Alunas: Laysa, Milleny e Paula Mendonça.

Friday, March 10, 2023

O Mistério da Casa Verde: loucos são aqueles que se dizem detentores da sanidade.

 “O Mistério da Casa Verde” é um livro escrito por Moacyr Scliar, publicado em 2000 pela Editora lelivro. O livro breve, fino, contendo apenas 10 capítulos curtíssimos, conta a história de quatro amigos; Arthurzinho (o Xereta), André Catavento, Pedro Bola e Leo, que estão em busca de um lugar perfeito para montar seu clube.

A narrativa se passa em Itaguaí-SP, onde se localiza a Casa Verde, que em séculos anteriores foi alvo de Machado de Assis para o seu romance “O Alienista”. Toda a história deste livro de Moacyr se debruça a partir da criação de Machado. É um livro feito sob encomenda com o intuito de convidar um novo público a conhecer os clássicos da literatura.

Scliar apresenta a estrutura-Introdução, Conflito e Conclusão- disposta de uma maneira que torna a leitura rápida e até mesmo divertida.

Os primeiros três capítulos apresentam os personagens, suas personalidades e conflitos entre si, como chegaram a descobrir a casa verde e a primeira surpresa. Ao chegarem em um acordo sobre a localização do clube (mesmo não sendo tão aceita por todos no grupo), os meninos têm de bolar um plano para poderem adentrar aquela insondável residência.

Depois dessa primeira etapa ser concluída, eles encontram mistérios ainda mais instigantes a serem resolvidos. Quem era aquele estranho morador? Por que o local estava tão limpo? De onde vieram as bananas?

Um novo conflito se inicia, os amigos Arthurzinho e Leo decidem ir conversar com o sujeito de cabelos desgrenhados e roupas esquisitas. Contando com a ajuda da professora Isaura-assídua defensora de Machado e apaixonada por suas obras- procuram entender a história do alienista, o doutor Simão Bacamarte, para entenderem a esdrúxula figura da casa. Tudo dá errado. Mas os planos de Arthurzinho são incessáveis, para a alegria (ou decepção) de seus colegas.

Após encontrar sua paixão, e descobrir quem era e qual era o propósito da mesma, Arthurzinho se encontra predestinado a ajudar a bela donzela. Uma tarefa que exigirá de muitas forças envolvidas, resultará em discussão e, por fim, a narrativa se fecha com reencontros, amor e o descobrimento de um talento inesperado.

Sob a minha visão, como leitora assaz interessada em discussões sobre mistérios e suspense, o livro cumpre seu propósito. Estou intrigada para ler “O Alienista” e saber mais sobre a história que levou o pobre homem da casa verde à loucura. Mas acho também que essa escrita de Moacyr poderia ter sido um pouco maior, cumpre seu papel, mas gosto de ver um pouco mais de desenvolvimento em uma história, tenho a mania de querer saber a todo momento o desenvolver dos personagens, saber se Arturzinho e a bela tiveram mais conversas pelo telefone, se André fez fuxicos sobre os dois aos amigos ao encontrar-los na pizzaria; se os dois chegaram a se desentender em algum momento após a comoção em frente a casa verde. Mas levando em consideração que é um livro destinado justamente a um público que não tem tanto contato com a leitura, é uma leitura satisfatória, até prazerosa considerando-se que pode ser lida em um dia de sábado onde a preocupação é matar o tempo, e por que não fazê-lo com conhecimento?

Ademais, Moacyr é um grande autor, já tendo escrito “Ciumento de Carteirinha” onde homenageou outro grande clássico de Machado de Assis, “Dom Casmurro”. Dois grandes escritores de grandes épocas, será sempre um prazer adquirir mais e, também, propagar mais conhecimento sobre esses nossos “tesouros”.

Discentes: Maria Eduarda. Rian.

Tempo de Menino, Domingos Pellegrini

 


              Domingos Pellegrini Júnior nasceu em Londrina – PR em 1949. Morou em Londrina (onde passa a maior parte de sua vida), São Paulo e atualmente, novamente mora em Londrina. O escritor é romancista, contista, poeta, jornalista e publicitário. Os gêneros literários que praticou foi conto, novela, poesia, romance e crônica. Suas principais obras são “O homem vermelho” (1977), “A árvore que deva dinheiro” (1981), “O caso da Chácara Chão” (2000). Domingos Pellegrini é, sem dúvida, um dos nomes mais significativos da prosa brasileira contemporânea. Um escritor de talento, que prefere, contudo, auto-intitular-se “um contador de histórias”. Domingos dedicou-se progressivamente a produção de textos destinados ao público infanto-juvenil, principal interlocutor de sua obra, buscando sempre, desenvolver uma linguagem na escrita, sendo esta simples e objetiva.

              Nas cinco histórias reunidas em TEMPO DE MENINO há um claro tom de nostalgia e o delicioso sabor de descoberta do mundo. São importantes episódios cruciais na vida de seus personagens, que, mesclando graça, ternura, ingenuidade e amargura, falam daquele tempo fascinante em que a criança começa a perceber um mundo novo: o mundo dos adultos. Tempo de Menino traz a marca de um autor que sabe contar histórias de modo fácil e envolvente. Ao relatar experiências importantes na vida de qualquer garoto, Domingos Pellegrini vai revelando a complexidade das relações humanas envolvidas em situações aparentemente banais. Um livro que, por certo, vai permitir ao leitor viver e reviver todo o encantamento do seu tempo de menino. Em cinco contos, o autor reconstitui emoções vividas por alguém que - na infância ou juventude - descobre o mundo. Na leitura desta obra, há algo que se extrai em termos de amadurecimento, de conhecimento do mundo e das pessoas. Ler Tempo de Menino pode-se tornar uma experiência de vida.

            Algumas crianças têm a sorte de amadurecer aos poucos, sem traumas. Para outras, esse processo se dá através de uma experiência dolorosa – às vezes até mesmo uma perda que fere no íntimo e abala tudo ao redor. Assim são as histórias de Tempo de Menino.

         Entre os cinco contos da obra, Tempo de Menino, dois deles estão escritos em primeira pessoa, nos quais os narradores são os próprios meninos-protagonistas: “Visita ao zoológico” e “Minha estação de mar”. O autor conta as histórias das histórias.

            Em Tempo de Menino, Pellegrini afirma em entrevista à editora que publicou a obra, como as lembranças da infância, dos desentendimentos dos pais, do lado pessoal de uma forma geral, tiveram forte influência na sua literatura (1997). Em Meninos e meninas o autor confessa, em outra entrevista, como os contos, de uma forma geral, são recriações literárias de passagens da vida dele.

            Todas as obras têm um pouco de mim aqui ou ali, de um jeito ou de outro. Às vezes, sou o menino, às vezes, o pai. Glória é uma menina bem parecida com o menino que eu fui. A menina de “Quadrondo” sofre com a separação dos pais como sofri a dos meus. Já o conto “Volta ao mar” é uma espécie de continuação poética de “Estação de mar”, conto que está no livro Tempo de menino. (...) Este livro é como um casarão, só que reúne “contos parentes”. (1998, p.101)

“Visita ao Zoológico”: O pai prometera levar o filho ao zoológico, mas adiava sempre, pois era preciso que ele merecesse. Estava aprontando constantemente. Era muito travesso.

Certo dia, tirara as agulhas de crochê da Vó para fazer ponta de flecha. Diante de suas reclamações, ainda respondera:

“ – Que que a senhora faz com a aposentadoria do Vô? A senhora nunca põe um tostão em casa!” Pobre Vó. Chateada, ficou três dias trancada em seu quarto. Com certeza, ele ainda teria que continuar esperando a oportunidade para ir visitar o zoológico

        Passaram-se vários domingos e nada! Até que num dia qualquer o seu sonho se realizou. Seu pai havia sido despedido do emprego e mesmo assim resolveu cumprir com a promessa: levá-lo ao zoológico. Falou que tinha aprendido com seu Vô que quando as coisas não vão bem, é hora de fazer uma festa. E assim, o garoto pediu pipoca, sorvete, chiclete...

            Seu pai não gostava de zoológico, porque os bichos ficam enjaulados e isto para ele, não tinha graça, despertava tristeza.

          Correu, brincou, observou atenciosamente os animais: tigre, gorila, girafa, zebra, cobra, jacaré... Estava na hora de voltar. Viu a onça e lembrou da mãe, porque estava sempre a ralhar por qualquer motivo. E o seu pai lhe disse que ela era uma mistura de galinha choca com loba braba. E a Vó, uma mistura de raposa com cobra; porém, na verdade, ela era apenas uma gatona velha.

          No conto “Homem ao mar” em Tempo de menino (1997), Pellegrini conta a estória de pai e filho que passaram por apuros depois que o filho caiu no mar revolto durante uma pescaria. O autor narra da seguinte forma a preocupação do pai diante do perigo iminente:

          Agora, o pai sabe que não tem tempo de explicar nada, sabe o que deve fazer e faz. (...) pulou de ponta, sai de perto filho, vê que outra onda já vem vindo lá atrás. Nada para frente! – grita aprontando – Vamos furar a onda! Lê o pensamento no olhar do filho: será que ele ficou louco! (PELLEGRINI ,1997: 67).

          O conto “A última janta” faz uma metáfora interessante mesclando elementos de índices e informantes. Para isso o texto narra a estória de um menino que morava com a mãe em uma pensão onde peões vinham jantar. A descoberta do mundo e das coisas se dá por meio da mistura da comida e do processo de transformação que esta faz no corpo humano. Em um dado momento um agenciador de nome Zé come diante do menino que, como qualquer outro da sua idade, faz muitas perguntas. Na medida que o agenciador come e mistura o arroz, o feijão, a carne, o menino pergunta e descobre novos mundos:

– Por que a gente come, Zé?

O agenciador riu; os peões da mesa riram.

– Bom – começou – tudo o que a gente come vira alguma coisa dentro da gente.

O menino ia abrindo a boca devagar, o queixo pendendo.

– O bife vira músculo. Deixa eu ver.

Apalpou o braço de menino.

(...) – E o arroz vira o quê?

– Arroz não é branco? Vira osso, vira dente.

(...) – E o feijão?

O feijão banhava o fundo do prato, lambuzava os pedaços de bife; num canto ia aparecendo abobrinha picada. (PELLEGRINI, 1997: 21).

           Uma das características mais marcantes do trabalho literário de Pellegrini, são as muitas histórias que envolvem crianças, na verdade, meninos, adolescentes homens ou jovens no início da idade adulta. Um viés que começou logo no início da carreira do escritor com a obra Meninos, de 1977. É importante fazer um breve parêntese para salientar a onipresença do nome “menino” em grande parte dos livros e/ou dos contos que o autor escreveu desde a década de 70. Logo após Meninos (1977), temos Os meninos crescem (1988).



Aluna: Roseni Barbosa

Lis no peito: um livro que pede perdão - Quando acabardes este livro, chorai por mim uma aleluia.

  O livro “Lis no peito: um livro que pede perdão” publicado em 2005, pelo escritor Jorge Miguel Marinho, contém uma narrativa poética, um livro sensível, com
adversidades que poderiam ser vivenciadas por qualquer adolescente e são retratadas de forma natural e delicadas pelo autor. 

    Ganhador do prêmio Jabuti (2006), classificado como infanto-juvenil, é uma boa pedida para quem intenciona apresentar Clarice Lispector aos jovens já que ela vagueia entre diálogos,  permeando os conflitos internos e externos dos personagens, contendo opiniões já formadas de Miguel Marinho, o que pode auxiliar na compreensão por parte do leitor que desconhece sua obra, porém não pense que é um livro estreitamente sobre Lispector pois pode se decepcionar. 

    A obra se inicia com um conflito entre o narrador (que é um autor personagem) e o personagem principal da estória, Marco César. Ao longo da narrativa é notável o vínculo que se é estabelecido entre os dois, e por conta disso a confiança em que Marco, um adolescente de dezessete anos sente em confessar para ele um crime, crime este cometido em razão de um torpor de emoções, embevecido de frustração após avistar sua até então enamorada dando o que acreditava ser seu por direito, o primeiro beijo, a outro rapaz, Marco comete uma série de ações na tentativa de causar o mesmo sentimento que foi experimentado por ele em Clarice, sua amada. 

    Clarice neste enredo se divide em duas, a escritora Clarice Lispector e a personagem, uma garota conhecida por Marco na escola, que não por acaso é aficionada em Clarice, a que escreve, e por causa dessa paixão que a menina possui em seus livros, nós leitores recordamos diversas passagens e trechos de sua obra e Marco passa a conhecer e se perceber em Clarices.  A adolescente, primeiro amor do personagem principal, é retratada pelo narrador como um deslumbre, vista aos cantos e curvas por Marco, essa descrição pode causar certo incômodo ao leitor, já que estamos falando de um narrador personagem adulto descrevendo de forma até mesmo sensual uma adolescente. 

      É nítido o amadurecimento emocional que os personagens sofrem ao longo do enredo, e esse amadurecimento conta com a ajuda de Lispector, que vaga no cotidiano e força a introspecção e  refletimento nas ações que são cometidas por eles e por outros, como destaca Gabriela Luft em seu artigo “A tendência predominante nas narrativas juvenis brasileiras contemporâneas explora, de maneira geral, temáticas acerca do amadurecimento e da aprendizagem humana de jovens protagonistas que buscam o conhecimento de si mesmos e dos outros” e isso é abordado dentro da obra, a vontade do personagem principal se enxergar e reconhecer em outro.

    Ao longo de todo o enredo o narrador segue se desculpando e pedindo perdão por Marco, como se nós, os leitores estivéssemos em condições de julgá-los e decretar para eles então a pena a ser cumprida, e isso não escapa ao final do livro, com o autor se sentido culpado por não se julgar imparcial ao recontar o que lhe foi relatado por Marco, pois para ele o menino merece perdão e não se opõe em suplicar se preciso for “Por fim, como mais uma palavra final que não se pretende definitiva, uma palavra que eu espero que fique ecoando como um clamor, peço mais uma vez o seu perdão para o meu amigo.”


Alunos: Amanda Teixeira, Araís Aloé e João Gabriel.


O dia em que Felipe sumiu


 "O Dia em que Felipe Sumiu" é um livro infanto-juvenil escrito por Milu Leite, publicado originalmente em 1987. A obra conta a história de Felipe, um menino muito travesso que acaba se perdendo em um passeio com a escola no zoológico.


A narrativa é contada a partir do ponto de vista de diferentes personagens, como a professora, os colegas de classe e a mãe de Felipe. A cada capítulo, o leitor tem acesso a uma nova perspectiva e informações que ajudam a montar o quebra-cabeça da história.


A escrita é simples e envolvente, ideal para crianças e jovens que estão iniciando na leitura. Além disso, a autora consegue transmitir com habilidade as emoções e pensamentos dos personagens, criando uma empatia com o leitor.


O livro aborda temas importantes, como a responsabilidade e a importância de seguir as regras, mas também traz uma reflexão sobre as consequências das escolhas que fazemos na vida. A história também mostra a solidariedade e o companheirismo entre os colegas de classe, que se unem para ajudar Felipe.


Em resumo, "O Dia em que Felipe Sumiu" é uma obra cativante e emocionante, que ensina importantes lições de vida de forma simples e acessível para o público infanto-juvenil. O autor demonstra sua habilidade em construir uma narrativa envolvente e capaz de prender a atenção dos leitores até o final.

Alunos: João Lucas & Thiago

A distância das coisas – Flávio Carneiro

 

 ( Beatriz e Ana Clara) 

A Distância das coisas (Edições SM, Flávio Carneiro) narra sobre o que é essencial: o amor. Será que a distância é capaz de diminuir um sentimento tão verdadeiro? Na narrativa, o personagem partilha suas dúvidas, saudades, intuições e as pistas que leva o protagonista à procura de sua mãe.

 

Sinopse: A distância das coisas conta, em primeira pessoa, a história de Pedro, que perdeu seu pai quando ainda era pequeno e, agora, aos 14 anos é avisado pelo tio, que sua mãe não sobrevivera a um acidente de carro. Seu drama não acaba aí. Sem ter permissão para acompanhar o enterro, passa a se questionar se a mãe realmente morreu, e começa a remexer as memórias de sua vida. Vai, ainda, atrás do ex-namorado da mãe, para resgatar os momentos que passou com ela.
A técnica narrativa do experiente Flávio Carneiro provoca um forte sentimento de identificação com o protagonista. O leitor passa a acompanhar de perto suas dúvidas, angústias e projetos. Cria-se uma atmosfera de suspense que aos poucos é resolvida com as estratégias elaboradas por Pedro para saber a verdade.

Conheça a história:

Pedro perdeu seu pai em um acidente de carro ainda muito pequeno, aos três anos de idade. Muitos anos depois, sua mãe morre da mesma forma. Inconformado, ele não acredita que as duas pessoas que mais amou na vida possam ter morrido do mesmo jeito. Sente-se sozinho, mesmo vivendo com um tio, irmão de sua mãe, que ficou responsável por sua criação. Seu tio quase sempre ausente pelo trabalho, o deixava a maior parte do tempo com sua empregada Irene, a qual ajudava cuidar do menino.

 

A vida de seu tio e a morte de sua mãe são um mistério para o jovem de 14 anos. Suas desconfianças se deflagram quando não tem a chance de ir ao enterro da mãe. Tendo como confidente uma amiga do colégio, Marina, que se revela o seu primeiro amor, a personagem tenta, de todas as formas, descobrir pistas que comprovem que a mãe ainda está viva, contando com as limitações próprias de sua pouca idade, mas com uma forte intuição que lhe serve de guia.

 

 

Sobre o livro

O livro possui uma narrativa em primeira pessoa, de cunho autobiográfico: ao mesmo tempo que o protagonista se apresenta como personagem, também atua como narrador na trama. Desta forma, temos um personagem-narrador. O leitor se sente confidente das suspeitas que o protagonista alimenta acerca da morte da mãe, pelo diálogo que estabelece, a todo momento, com o leitor. À medida que a narrativa se desenvolve, os laços entre personagem-narrador e leitor se estreitam, tornando-os cúmplices.

 

Utilizando-se de uma linguagem jovial e descontraída, o autor ambienta o leitor de forma magistral no mundo de um personagem de 14 anos. O autor propõe o suspense, o que aumenta o nível de expectativa do leitor, mantendo um excelente ritmo da narrativa, construída por períodos curtos e objetivos, entremeados de diálogos ágeis.


No meio da noite escura tem um pé de maravilha: Baú de lembranças

 



No meio da noite escura tem um pé de maravilha é um livro de contos folclóricos de amor e aventura escrito por Ricardo Azevedo em 2002. Esta obra reúne dez contos históricos que circulam no Brasil, recontados e ilustrados pelo autor. Sua escrita revela uma qualidade que é característica dos contos de tradição oral: a reflexão sobre a vida e suas dificuldades, o ensinamento ético e a representação das qualidades humanas, tornando os  textos literários plurissignificativos e possibilitando diferentes leituras.

O livro possui uma linguagem acessível a todos os seus leitores, juntamente com suas ilustrações que possuem uma representação nordestina (própria do cordel) que permite uma imaginação a priori sobre cada conto presente, reforçando a ideia da ilustração cordelista, a capa possui elementos ilustrativos que em conjunto com o título pode despertar no leitor uma curiosidade a respeito dos contos folclóricos.

Entre os dez contos do livros, merecem destaques os seguintes contos:

“Moço bonito e imundo” que retrata um rapaz que vivia tranquilamente até a morte dos seus pais. Diante da situação, ele se vê obrigado a sair pelas ruas em direção ao destino contando com sua sorte. Mas, um certo dia, acontece um encontro inesperado com o “coisa ruim”, “beiçudo”ou  “diabo”, onde surgiu uma proposta irresistível naquele momento que mudaria a vida do moço. O conto traz questões que abordam temas como perdas, coragem, perseverança; situações e atitudes que  ajudam a amadurecer para enfrentar os problemas e conflitos.

“Coco verde e melancia” nos conta uma história sobre um encontro entre dois jovens: Coco verde e Melancia (pseudônimos) traz à tona a dificuldade de um amor proibido, que por um lado há a ganância e ego, já  no outro lado  apenas o coração puro de dois apaixonados.

“As três noites do papagaio” conta as artimanhas feitas por um rapaz, com a ajuda de uma velha feiticeira, para conseguir ficar com uma bela moça, já casada com um vendedor ambulante.

O filho mudo do fazendeiro conta o estratagema usado por uma jovem para conseguir fazer com que um rapaz, que vivia deitado numa cama sem nunca dizer uma palavra, voltasse a falar.

De acordo com Luft em seu artigo “A literatura juvenil brasileira no início do século  XXI: autores, obras e tendências” podemos associar o livro de Ricardo Azevedo em um contexto de limites cronológicos (1921-1944), onde Luft introduz “os aspectos mais recorrentes nas obras destinadas a crianças e jovens são o nacionalismo, o predomínio do espaço rural, a exploração da tradição popular em lendas e histórias e a inclinação educativa”. Podemos dizer que é um livro  de contos repleto de lendas contadas de bisavô para avô, que passa para pai, até chegar ao filho, visando o aspecto histórico, contendo fortes características nordestinas nos fazendo lembrar de aspectos cordelistas; Com ilustrações vibrantes e chamativas que faz com que o leitor entre nesse universo folclórico.

É uma obra premiada em 2003 com o prêmio Jabuti na categoria “Literatura Juvenil”, através da escrita de Ricardo Azevedo podemos perceber no livro temas como regionalismo, como dado exemplo no primeiro conto, onde o autor traz inúmeras nomenclaturas diferentes  para se referir ao “coisa ruim”, com isso, conseguimos a perceber a forte representação nacional no livro. São histórias que foram se modificando ao longo dos tempos, a maioria delas trazidas pelo autor do folclore europeu, mas, com alterações brasileiras se adaptando à cultura local, mantendo sempre um ensinamento valioso ao final da jornada “moral da história”. A estrutura do texto com frases curtas é convite para leitura em voz alta, que pode encantar os leitores de diversas idades. Para quem gosta de ler sobre contos ou até aqueles que não estão acostumados, esta obra é um convite perfeito para se aventurar dentro das histórias dessa maravilha.


Acadêmicos: Lorena Lopes e Felipe Miguel.